Atualmente as inundações são os desastres naturais mais frequentes em todo o mundo¹. Além disso, estima-se que os danos decorrentes de inundações sejam ainda mais expressivos no futuro, com as expectativas de mudanças climáticas e com as atuais formas desgastantes de uso da terra.²
De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), no Brasil, aproximadamente 8,2 milhões de pessoas e 2,5 milhões de domicílios estão em áreas sujeitas a inundações e deslizamentos. Ainda segundo a pesquisa, dos 872 municípios analisados, somente 13,1% têm planos de Redução de Risco de Desastres (RRD).
Diversos fatores contribuem para o aumento global do número de inundações, como fatores meteorológicos, hidrológicos e sociais. Nas últimas décadas, tem havido uma crescente conscientização de que as áreas urbanas não apenas são impactadas pelas inundações, como também contribuem para estes eventos. Isto é, os edifícios, as estradas, as calçadas e os outros elementos impermeáveis do tecido urbano aumentam a chance de inundações. Isso porque quando a chuva cai, essas estruturas simplesmente retardam a passagem da água, em vez de deixá-la se infiltrar pelo solo abaixo.³
Assim, está se tornando cada vez mais evidente a necessidade urgente de um gerenciamento de riscos de inundações, que envolva uma combinação equilibrada de métodos, incluindo planejamento e abordagens de governança, para reduzir os possíveis custos das inundações4 para as pessoas e para o meio ambiente.
Tradicionalmente o gerenciamento de risco de inundações conta fortemente com a engenharia para desenvolver e instalar as chamadas “estruturas cinzas”, como barragens, instalações de manutenção de cursos d’água, muros, etc. No entanto, o uso exclusivo da engenharia tradicional não é mais suficiente como abordagem de gerenciamento de risco de inundações. Por isso, nos últimos anos, tem-se discutido uma nova forma prevenir ou mitigar os riscos de inundações: através de soluções baseadas na própria natureza.
As soluções com base na natureza são abordagens que defendem que as “estruturas verdes” podem reduzir o risco de inundações. Diversas instituições tem demonstrado que os ecossistemas podem desempenhar um papel significativo na mitigação do risco de inundações ou, inversamente, que podem exacerbar o risco de inundações quando são degradados.567
As estruturas verdes podem tomar diversas formas. Elas podem ser implementadas intencionalmente, como as zonas úmidas urbanas, que oferecem a mesma função de drenos subterrâneos de águas superficiais e os chamados “jardins de chuva”, que capturam a chuva desviada da superfície das estradas. De outra forma, essas estruturas verdes podem ser apenas mantidas e conservadas na paisagem urbana. A preservação das árvores na paisagem natural, por exemplo, se faz importante para o aumento da absorção de água, para a captura da chuva e para retardar o escoamento das águas superficiais. Do mesmo modo, é fundamental incentivar a preservação das zonas úmidas, dos lagos e dos pântanos, uma vez que eles podem acumular as águas das chuvas e liberá-las mais lentamente, limitando ou prevenindo as cheias a jusante.
De qualquer maneira que seja implementada, essa abordagem, que compreende a natureza de forma holística para o desenvolvimento das políticas públicas, pode aumentar a resiliência e diminuir a vulnerabilidade das pessoas e do meio ambiente frente aos possíveis riscos de inundações.
1WWF, U. S. Natural and nature-based flood management: a green guide. Washington, DC, p. 20, 2016.
2LALLEMANT, David et al. Nature-based solutions for flood risk reduction: A probabilistic modeling framework. One Earth, v. 4, n. 9, p. 1310-1321, 2021.
3GEAREY, Mary. Re-naturing cities: reducing flood risk through nature-based solutions. Geography, v. 103, n. 2, p. 105-109, 2018.
4 WWF, U.S. Op. Cit.
5EUROPEAN ENVIRONMENT AGENCY. Green Infrastructure and Flood Management—Promoting Cost-Efficient Flood Risk Reduction via Green Infrastructure Solutions. 2017.
6 WWF, U. S. Op. Cit.
7WORLD BANK. Implementing Nature Based Flood Protection: Principles and Implementation Guidance. 2017.
Publicado dia: 05/08/2022
Por: Isabella Dabrowski Pedrini
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