Dutra, da EY: “Quando se fala em sustentabilidade, ainda há
trabalho de educação e convergência de conceitos a ser feito”
As companhias já entenderam que suas reputações estão diretamente relacionadas com questões ligadas à sustentabilidade, mas a área responsável pelo assunto ainda tem baixo poder decisório dentro das corporações. A falta de integração com os demais setores foi observada em um levantamento realizado pela consultoria EY, que analisou a relevância das práticas de governança em sustentabilidade de mais de 260 empresas de médio e grande porte de diversos setores.
O resultado contraditório surge em um momento em que questões relacionadas ao meio ambiente, social e governança pesam mais entre as decisões dos investidores. Um exemplo é o caso do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG), um dos maiores acidentes ambientais do Brasil, que afetou duramente as ações da mineradora. Dias depois da tragédia, a B3 excluiu a empresa do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). Quando ingressou no índice, em novembro de 2018, a Vale informou que tinha como meta ser referência mundial em sustentabilidade no setor de mineração até 2030.
Segundo o levantamento, ao mesmo tempo em que 84% das empresas percebem a relação entre sustentabilidade e reputação, apenas 4% delas integram a área com a gestão de riscos corporativos. “Ao mesmo tempo em que as empresas enxergam que a sustentabilidade tem um alto poder de reforçar ou melhorar sua gestão, quando olhamos a gestão de risco, que também tem a ver com a reputação, o resultado fica abaixo do esperado”, disse ao Valor o diretor de sustentabilidade e mudanças climáticas da EY, Leonardo Dutra. Segundo o executivo, as organizações estão mais avançadas nas estrutura de governança do que de sustentabilidade.
“Há um espaço para melhora. Quando estamos falando de sustentabilidade, ainda há um trabalho de educação e convergência de conceitos a ser feito”, afirmou Dutra. A pesquisa levantou que em 38% das empresas os riscos de sustentabilidade influenciam diretamente uma decisão. Quando se fala, por exemplo, em mudanças climáticas, apenas 13% das companhias ouvidas possuem políticas para o assunto, que é tema de discussão desde a década de 1990.
A EY também concluiu que 58% das companhias conseguem relacionar geração de receita e o valor de mercado da companhia com as práticas de sustentabilidade. Para o executivo, o resultado ficou dentro do previsto, mas ainda existem dificuldades. Um exemplo é o desmatamento da Amazônia, que tem impacto sobre a água e consequentemente sobre o preço da energia. “Se continuarmos neste ritmo, a energia vai ficar mais cara. É uma questão de tempo”, avaliou.
Parte do resultado pode ser explicado porque as estruturas ainda são novas no Brasil. O estudo mostrou que 67% das organizações têm área de sustentabilidade, mas na maioria dos casos há menos de 10 anos. Em 17% das companhias, o setor não existe, é apenas uma função dentro de uma área mais ampla, como relações institucionais.
Segundo a EY, uma forma de desenvolver um ambiente organizacional favorável à sustentabilidade é acrescentar o desempenho de sustentabilidade ao programa de remuneração variável das companhias. 58% dos pesquisados ainda não o faz. “Embora as empresas estejam fazendo ações dentro do que conhecemos como sustentabilidade ainda falta a melhora de processos.”
Fonte: Valor Econômico
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